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adstera

vendredi 31 juillet 2015

Ele tinha seus próprios mares internos


Menina coruja caminhava cuidadosamente, como se tentasse tornar cada decisão a mais correta possível. Na verdade, isso era uma tarefa quase impossível se você mudasse o ângulo da história. Menina coruja tentava olhar para todos os ângulos possíveis, tomando cuidado para não dar passos em falso. Falhar. Ela não se permitia fazer isso.
Menino coruja não sabia de sua partida. Era tudo uma questão de tempo, pensava. Mas quando o tempo foi-se aumentando, pôde perceber que não se pode voltar atrás. Era mais fácil, consolava, dizer adeus quando meio pé já está do lado de fora.
Menina coruja não poderia estar mais perdida. Mas assim como ele, ela sabia que o passado era irreversível. Escolhia agora, com cuidado, a história que seu futuro carregaria quando se tornasse passado. O fato era que, para menina coruja, o tempo era, depois da mente humana, a segunda coisa mais fácil de ser manipulada. Tempo? Isso existe?, pensava ela. Mas sabia que por trás da simplicidade, haviam as armadilhas, das quais menina coruja fugia.
Menino coruja também escolhia seu destino. Largou o emprego que tanto o afundava, como se o trabalho fosse o mar e ele apenas o vestígio de algum naufrágio. Ele odiava o mar, foi por isso que buscou por terra firme. As coisas não eram mais fáceis, mas menino coruja, como se fosse um grande sábio, conhecia bem a vida: estar 100% é sinônimo de estar morto.
Menina coruja lutava contra a ventania. O que se faz quando tudo lhe impede de ter uma vida? Ela tinha duas opções: se largava, e deixava o vento indomável a conduzir, ou se abraçava, dando-lhe alguma força para continuar. O problema é que nem mesmo menina coruja sabia da onde tirava essa força: a única coisa que a ventania deixou para ela era si mesma.
Menino coruja apareceu quando ela estava se preparando para partir. Não tinha motivos para ficar, sentia que era o próprio mar, que afundava tudo que nele entrava. Menino coruja navegava. Não tinha medo de estar lá, e pela primeira vez, menina coruja sentia que não era diferente, que poderia, afinal, não ser apenas culpa e fardo.
Menina coruja foi ficando, atrasou sua partida, acolheu seu navegante. Queria ajudar, queria guiar, queria deixar ficar. Os outros mares não entendiam. Parecia que haviam sido feitos para afundá-lo, para fazer menino coruja se esvair em meio ao transtorno. Ela não conseguia deixar que o fizessem.    Menino coruja sumia, e estes eram momentos de grande tribulação para menina coruja. Ele tinha seus próprios mares internos, brigando para ver quem seria o oceano rei. Menino coruja lutava todos os dias, tentando controlar seus mares, dizendo-lhes que não se revoltassem contra ele.
Menina coruja entendia. Observava ele desembarcar em terras firmes, deixava ir, porque também precisava partir. Menina coruja não podia dizer isso. Precisava ter certeza, pelo menos dentro de si, que menino coruja havia chegado ao destino certo. Precisava, e desejava com todas as suas forças, que menino coruja encontra-se a terra certa para acolhe-lo. Menina coruja era mar, e menino coruja não podia ficar no mar. Ela não queria que ele afundasse enquanto navegava.
Menino coruja a prendia em sua terra firme interna. A partida, ele sabia, não estava tão distante assim. Menino coruja não prendia, libertava, mas ao mesmo tempo, menina coruja não conseguia ir embora. Sabia ser a decisão certa, o passo a ser dado, mas nunca sentia que menino coruja havia chegado ao porto certo.
Menina coruja sabia que a partida estava próxima, quer ela autorização ou não. Menina coruja queria continuar ali, mas a ventania lhe atirava vestígios do que um dia haviam sido objetos concretos. Menina coruja se feria. Ela queria estar 100%, e isso significava ir embora sem poder voltar. Menina coruja não sabia o que fazer.
Menino coruja fez ficar. Não queria ver menina coruja partir. Pediu, sem prender, e ela ficou. Menino coruja nunca havia visto mar chorar, e ela não quis proporciona-lhe esta experiência. Ficou, sabendo que partir era preciso. Esperou, até que a ventania lhe ferisse por inteiro.

Autor: Ana Souto.

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